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Foto do escritorCarlos Neiva

A mente de um gênio do mal

Uma análise psicológica do Dr. Octopus das HQ's do Homem-Aranha



Como já foi provado por Campbell (1997), as narrativas que tratam da figura heroica estão repletas de arquétipos. Sendo assim, os elementos característicos em torno da figura do herói se repetem em cada personagem. Nos super-heróis das histórias em quadrinhos (doravante HQs) isso se faz ainda mais comum. É comum entre os super-heróis o uso de um colante colorido (de preferência com as cores da bandeira estadunidense), a presença de um par romântico em perigo, uma identidade secreta e, é claro, um antagonista.


Esses vilões seguirão o padrão comum da era clássica das HQs: serão gênios do mal compreendidos que tiveram problemas na infância e fazem o que fazem apenas para se aceitarem. É por isso que são bastante frequentes nas narrativas os seguintes conflitos: surge um vilão que elabora um plano incrível para dominar o mundo; ele é confrontado pelo herói, mas este acaba sendo capturado; o vilão não finaliza seu rival, pois antes precisa explicar seu plano incrível; o herói acaba conseguindo escapar e derrotar o vilão que jura vingança. Esse ciclo é o segredo para uma interminável produção de histórias de super-heróis.


Dentre essas figuras vilanescas, creio que a do Dr. Octopus seja a que sirva de exemplo para todos os casos, pois nesse vilão, estão contidos todos os clichês do “cientista louco” e “gênio do mal”.


Criado em 1963 por Stan Lee e Steve Ditko (os mesmos criadores do seu arqui-inimigo, o Homem-Aranha) e com sua primeira aparição na revista The Amazing Spider-Man #3, o Dr. Otto Gunther Octavius era um renomado físico nuclear que após um acidente fica com quatro braços mecânicos ligados ao seu corpo, desde então ele passa a tentar dominar o mundo com suas invenções de cientista louco, mas sempre é impedido pelo “amigão da vizinhança”, como é conhecido o Homem-Aranha.


Na HQ de Zeb Wells intitulada Doutor Octopus: Origem (2014), conta-se na íntegra a história da origem do vilão. Quando pequeno Otto sofria constantemente com bullying na escola por usar grandes óculos quadrados. Quando apanha na escola ou tem seus óculos quebrados pelos “valentões”, seu pai, um alcoólatra, o castiga com mais severidade, pois acredita que o menino deve revidar e ser “um homem de verdade”.


Mas Otto não está sozinho nessa, sua mãe o acoberta do pai e o cobre de elogios e mimos, aqui há a presença de um forte complexo de Édipo, pois Otto vê o pai como uma ameaça e sua mãe como seu reduto seguro. Mais tarde, quando seu pai já estiver falecido, Octopus não se relacionará com nenhuma mulher que não seja sua mãe, e ficará furioso com ela quando a ver com um namorado. E como “O menino encara a mãe como sua propriedade, mas um dia descobre que ela transferiu seu amoré sua solicitude para um recém-chegado”. (FREUD, 1923, p. 101). O ódio e os ciúmes farão com que o cientista louco mate sua própria progenitora.


Mas os problemas de Otto Octavius não são apenas esses, o gênio do mal ainda pode ser classificado como narcisista megalomaníaco. “Esse tipo de pacientes, que eu propus fossem denominados de parafrênicos, exibem duas características fundamentais: megalomania e desvios de seu interesse do mundo externo — de pessoas e coisas”. (FREUD, 1914). Dr. Octopus despreza as relações humanas, que ele acredita serem coisas supérfluas. Fechado em sua ciência, Otto deseja se tornar grande, ou (como Wells irá compará-lo) o homem vitruviano.


Suas ações são conduzidas por seu narcisismo. “Nesse sentido, o narcisismo não seria uma perversão, mas o complemento libidinal do egoísmo do instinto de autoconservação, do qual justificadamente atribuímos uma porção a cada ser vivo”. (FREUD, 2010, p. 10). Em Otto esse instinto está mais que treinado pela sua traumática infância. Sendo assim, o que se têm como Dr. Octopus, foi apenas o resultado de uma traumática infância. Configurando assim um perfeito mosaico do perfil psicológico típico do super-vilão pastelão, devidamente caricaturizado na figura do gênio do mal de Otto Octavius.



REFERÊNCIAS

  • CAMPBELL, Joseph. O Herói de Mil Faces. São Paulo: Cultrix, 1997.

  • FREUD, Sigmund. Introdução ao narcisismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.

  • FREUD, Sigmund. O ego e o ID e outros trabalhos. 1932. Disponível em: http://bvespirita.com/O%20Ego%20e%20o%20ID%20e%20Outros%20Trabalhos%20(Dr.%20Sigmund%20Freud).pdf

  • FREUD, Sigmund. Sobre o narcisismo: uma introdução. 1914. Disponível em: http://lacan.orgfree.com/freud/textosf/sobreonarcisismo.htm

  • WELLS, Zeb. Doutor Octopus: Origem. Barueri: Panini Books, 2014.

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